quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Conto de um dia chuvoso

Observo as finas gotas de água se encontrando na janela do meu quarto. Está começando a chover. Fecho meus olhos por alguns instantes, e apenas aprecio o som causado pelos carros vagando sobre o asfalto molhado. O movimento está calmo lá fora, apenas uma senhora atravessa a rua com seu guarda-chuva e sua sacola de feira. Me pergunto se ela tem filhos, se ela tem netos. Penso se é casada, solteira, ou viúva, e nas inúmeras possibilidades de coisas que possa estar carregando naquela sacola. Me pergunto qual seria sua idade, onde mora, qual profissão exercia (ou ainda exerce), e até mesmo chego a pensar com meus botões (sim, meus botões vermelhos que fecham meu suéter) se ela é feliz.
O que a trouxe por essas bandas? Este bairro é afastado e nem um pouco movimentado. Também garanto que por aqui não há nenhuma feira.
Quando trago meus pensamentos de volta à Terra, percebo que aquela senhora já está longe o suficiente a ponto de eu não enxergá-la mais.
Fecho a longa cortina da minha janela e sigo para a cozinha. Está frio, então faço um chocolate quente para acompanhar os bolinhos de chuva que vovó me mandou pela manhã. Vovó. Pessoas idosas...
Pego minha caneca e meu prato com bolinhos e volto ao meu quarto, me sento na escrivaninha frente à frente com meu caderno e meu lápis.
Fico olhando para eles por alguns minutos (olho, mas sem deveras enxergar), pensando no quão incríveis são os idosos. Sejam fofos ou rabugentos, mas nunca deixam de ser uma grande fonte de conhecimento, de histórias, experiências. Uma grande fonte de vida. Penso eu que, idosos são como crianças... Depois de terem vivido tanto, de terem amado tanto quanto sofrido, tornam-se puros novamente.
Quando me dou conta, já escrevi um texto. Quando me dou conta, o chocolate já esfriou e os bolinhos murcharam um pouco. Quando me dou conta, já parou de chover, e escureceu.
Me chateio, mas acho que a vida é assim. Quando nos damos conta, já amamos, já choramos, já vivemos. Por fim, envelhecemos.
Quando nos damos conta, estamos atravessando a rua sozinhos, com nossos guarda-chuvas e nossas sacolas de feira.


                                             A.B.

2 comentários:

  1. Parabéns Lu, por mais um dom que DEUS lhe deu que é de escrever e muito bem... beijos de sua fã e mãe Zuleica.

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