quinta-feira, 6 de junho de 2013

O segundo adeus de Cecília

Num banco de jardim, naquela mesma namoradeira, Cecília não namorava ninguém a não ser a si própria. Admirando a folhagem avermelhada dispersa ao seu redor, sonhava com dias que jamais chegariam, com amores que na escuridão de seu coração [guardados a sete chaves] jamais seriam revelados.
Aquelas nuvens de um dia comum, representavam para ela sentimentos que [em sua teoria existencial] foram esboçados por um ser superior. Sabia ela desta tal existência? Não, teorias são teorias, e Cecília pouco estava interessada em comprová-las.
Aquela brisa que obrigava seus cabelos a dançarem sem rumo, a fazia sentir mais viva, mais apaixonada e menos certa.
Quem era o suposto dono daquele sentimento que Cecília mal conhecia? O suposto dono de seu coração [caso ela tivesse um]? Haviam muitos amores, mas qual deles a alucinava naquele momento?
Ela amava sozinha. Sua solução foi se amar.
Quem mais engoliria seus defeitos ao sobressaírem suas qualidades? Sim, apenas Cecília.
Sabendo que não poderia cantar para si, lhe dar as mãos, acariciar seus próprios cabelos pelo resto de sua vida, resolveu deixar o céu, a brisa, o banco, para corrigir seus erros, amenizar seus defeitos e se modelar para se expor ao amor.
Seu maior erro foi deixar o medo de não saber amar a impedir de ser amada.
Rotulada, moldada, revestida com seda alva, não foi amada.
Perdeu o amor, o banco, a brisa, o céu e a si. Perdeu-se de si.
Adeus, Cecília. Você precisa acordar.


                                         A. B.

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