quinta-feira, 6 de junho de 2013

Romeu, o degustador de mentiras

A minha mentira vai além dos outros, além de seus alvos objetivamente planejados. Minto para mim, e torno real minha própria desgraça. Desgraça divinizada em sentimentos surreais. Faço de minhas palavras, embaraçosas artes abstratas e longe, longe de se concretizarem.
Não afeto ninguém, não causo caos. Me deprimo. Onde está a realização do meu objetivo? Olho no espelho e me vejo em cacos. Encontro em cada pedaço o sabor de minha mentira atingindo seu próprio criador.
Limpo o sangue derramado com minhas próprias mãos, que agora carregam consigo mais uma marca, o preço de um trabalho muito (?), mas muito bem efetuado.
Optei por mentir frente ao espelho, olhando em meus olhos e ouvindo minhas palavras percorrerem e valsarem por cada canto do meu corpo.
Alvo atingido com um infeliz sucesso.

Você não mente frente ao espelho esperando que outra pessoa engula seus cacos ensaguentados por palavras, não?


                                         A.B.

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